terça-feira, 23 de novembro de 2010

Um choque de educação - Katia Chedid

O Globo, 23/11/2010 - Rio de Janeiro RJ

Todos os "choques" que se possam criar, deveriam convergir para apenas um, único e fundamental: O Choque de Educação. Éramos muito felizes e não sabíamos o quanto, quando décadas atrás, os bons estudantes, estavam nas escolas públicas. As mesmas sólidas construções que existem até hoje. Professores trabalhavam por vocação, eram respeitados e complementavam exemplarmente a educação que os alunos recebíamos em casa. As escolas eram continuidade de nossos lares. Tive a honra de estudar no maravilhoso Colégio de Aplicação da UERJ, público. Muito jovens, éramos tratados como universitários, por mestres inesquecíveis. Junto a excelente qualidade de ensino, a disciplina reinante, em todos os aspectos, fazia toda a diferença. Ninguém saía gritando pelo colégio ou em sala de aula. O respeito ao professor era absoluto. Nosso uniforme não podia ser modificado e sentíamos grande orgulho em usá-lo. Qualquer situação era discutida com os superiores. Os alunos participavam e eram ouvidos, sabendo bem a importância de seus atos. Havia ordem. Educação, disciplina e respeito aos limites. Palavras fora de moda nos dias atuais.

A evolução não nos trouxe itens melhores, ao contrário, caminha para a degradação da sociedade. As praças de alimentação em shoppings podem ser um termômetro para tal. Todos falam aos gritos. Mães deixam seus filhos correrem, incomodam todo mundo e acham uma gracinha. Elas são "mães modernas", usam bolsas de grife, não repreendem filhos de quatro anos que já usam celular e computador, e estudam em colégios avançados e famosos. Esta mesma "família moderna", quando sai, deixa tudo sujo em volta, entendendo que é obrigação dos empregados limpar. Ao entrar no seu carro, de marca valiosa, ainda vão jogar pela janela, em via pública, o que desejar. O pai vai avançar o sinal para ganhar tempo, vai xingar o pedestre, buzinar bem alto, e dirigir, falando ao celular.

Estas crianças na escola vão agir como quiserem, e o pobre professor vai levar a sobra sem poder fazer nada. Caso faça, o psicólogo vai contrapor suas atitudes. Quando adolescente, está criança vai bater em todo mundo, vai agredir o professor, vai se achar o dono de seu arruaceiro mundo. Os pais não terão voz, pois estarão colhendo o que plantaram em seus impossíveis filhos que, à noite, estarão fazendo baderna, pichando muros, ouvindo som às alturas e gritando seus palavrões nos bares da vida.

As alterações e a modernidade no ensino não nos levaram a melhores caminhos. Os professores já estão em extinção. O sistema de ensino desce ladeira abaixo e vemos nossa cidade suja, depredada e pichada pelo próprio povo. O mesmo povo que joga o panfleto no chão, em frente à caixa coletora, indiferente ao gari que acabou de varrer tudo, sem consciência de que o material de limpeza gasto sai dos seus impostos. A falta de educação, o desconhecimento dos princípios da ética, o desrespeito ao limite do próximo, em todos os níveis e classes, são mazelas desta sociedade, muito ocupada em consumir, ao invés de evoluir, aprimorar, exercer cidadania e construir algo melhor como exemplo para seus filhos. Este é o grande choque que deve ser dado se, ainda tivermos tempo, de voltar aos princípios.

“A educação do homem começa no momento do seu nascimento; antes de falar, antes de entender, já se instrui”. Jean Jacques Rousseau
VAMOS REFLETIR!