terça-feira, 13 de março de 2012

Construindo o Conceito de Avaliação de Desempenho da Logística Lean

Construindo o Conceito de Avaliação de Desempenho da Logística Lean
Logística Lean: Avaliação de Desempenho.


O artigo apresenta a definição sobre os modelos de avaliações de desempenho logístico, mostrando a proposta de avaliação de desempenho na logística lean. Traz também uma análise referente os princípios da logística e sua necessidade da logística lean. Há comentários sobre a situação da logística no Brasil e oportunidades de trabalhos futuros.

Introdução
As organizações buscam incessantemente a eficiência nas suas operações, também necessitam de métodos que permitam avaliar o seu desempenho. Neste sentido os quesitos como qualidade e confiabilidade do produto, rapidez no atendimento às necessidades do mercado, flexibilidade e custo, começaram a ser considerados como as novas dimensões de sucesso empresarial (LIMA; ZAWISLAK, 2003). O mercado consumidor exige cada vez mais das empresas velocidade, eficiência e agregação de valor, e com estes direcionadores as organizações buscam a mudança dos processos, independente do seu ramo de negócio, para ser globalmente competitiva, (ELIZABETH; CASSANDRA, 2011; CUDNEY; ELROD, 2010).
Neste sentido um dos aspectos mais críticos para a organização é a definição do modelo de gerenciamento das operações com objetivos representativos e que traduza a sua real necessidade. Criar indicadores de desempenho que estejam alinhadas com as estratégias das organizações é um grande desafio (FRANCESCHINI, Fiorenzo et al., 2006).
Além disso, o indicador de desempenho traz um entendimento de como a empresa funciona e as forças dirigem, permitindo um melhor controle do processo e facilitando o processo de decisão (NEVES, 2009).
Na gestão estratégica dos indicadores desempenho a logística exerce uma forte influência nos resultados, por isso as organizações focam nestes indicadores com mais ênfase. A introdução da filosofia Lean na logística permite uma visão mais clara dos conceitos de valor, fluxos de valor, fluxo de produtos, sistema puxado (YEN, 2003 apud JONES et al., 1997; SÁNCHEZ et al, 2001).
De forma a atender estas exigências as empresas buscam uma alta qualidade na prestação de serviço ao cliente final, como diferencial competitivo (Fleury e Lavalle, 2000). Esta diretriz exige uma revisão dos processos logísticos através da avaliação de desempenho, que por sua vez impulsiona a logística a adaptar a filosofia Lean para se reestruturar. Em algumas indústrias, como por exemplo, na automotiva, verifica-se que este processo de reestruturação possui como forte inspiração na filosofia de organização da produção: a manufatura enxuta – ME (LIMA; ZAWISLAK, 2011).
Além de adaptar os conceitos da manufatura enxuta a logística precisa reavaliar a sua metodologia de avaliação de desempenho, para que assim como a manufatura que criou os seus indicadores Lean, a logística também tenha os seus indicadores que permitam medir a logística Lean.
Na sua essência, a logística já tem um apelo lean, devido o seu enfoque na redução dos custos e na eficiência. Segundo Christopher (1997, p.2) a logística é o processo de gerenciar estrategicamente a aquisição, movimentação e armazenagem de materiais, peças, produtos acabados (e os fluxos de informações correlatas) através da organização e seus canais de marketing, de modo a poder maximizar as lucratividades presente e futura através do atendimento dos pedidos a baixo custo.
Para atingir o objetivo proposto, utilizou como procedimento técnico a pesquisa bibliográfica. A coleta de dados foi realizada por meio das bases de dados ISI, Scileo e Google acadêmico. O resultado parcial da busca simples é composto por 200 publicações. Chegou-se a uma amostra final composta por 12 artigos.

1. Modelos de avaliação de desempenho logístico utilizados na logística lean
Avaliar o desempenho na logística Lean permite identificar os pontos de melhoria e a situação em que o processo logístico se encontra. Para Nogueira et al (2008) apud Maskell (1999) as empresas enfrentam dificuldades durante a implementação de processos enxuto: processos visíveis, que não eram medidos por indicadores tradicionais, como por exemplo, o custo de retrabalho de embalagens defeituosas. Algumas vezes o processo de implantação é interrompido por esse aspecto. Entretanto, Nogueira et al (2008) apud Maskell (2000) alerta para alguns problemas que as empresas podem enfrentar durante as atividades de implementação do processo enxuto:
a) Medir os benefícios financeiros obtidos com o processo enxuto;
b) Melhor visibilidade sobre o real custo dos produtos;
c) Definir novos indicadores de desempenho;
d) Simplificar os métodos contábeis reduzindo os desperdícios;
e) Desenvolver um novo método para tomada de decisões;
f) Focar em atividades que agreguem valor para o cliente.
Segundo Ângelo (2005) a logística interna está em constante mudança, por meio da melhoria continua dos processos, fluxos de dados e informações que circulam pelos departamentos, e entre as entidades também, pois há muito tempo vem sendo um ponto de atenção. Por isso, o controle das atividades logísticas internas não é algo novo no meio empresarial.
Dentro de uma empresa existem muitos processos logísticos, no entanto, o controle dos indicadores específicos para cada um deles não é recomendado, pois o processo pode se tornar complexo e confuso, pode representar um dos desperdícios apontados pela filosofia lean (SÁNCHEZ et al, 2001; FERNANDES et al, 2005).
Neste contexto os indicadores de desempenho interno compreendem 4 áreas chaves:
a) Atendimento de Pedido ao cliente;
b) Gestão de Estoques;
c) Armazenagem;
d) Gestão de Transportes.
Além de representar as grandes divisões da logística, estes indicadores macros estão alinhados com o grande foco da logística, que é atender o cliente no tempo certo, com qualidade e com um custo justo (SÁNCHEZ et al, 2001; KOBAYASHI, 2000).
Nas tabelas, abaixo, estão representadas o desdobramento destes indicadores.
Indicador de
Desempenho Descrição Cálculo Melhores Práticas
DESEMPENHO NO ATENDIMENTO DO PEDIDO DO CLIENTE
Pedido Perfeito ou
Perfect Order
Measurement Calcula a taxa de pedidos sem erros em cada estágio do pedido do Cliente. Deve considerar cada etapa na "vida" de um pedido. % Acuracidade no
Registro do Pedido x % Acuracidade na
Separação x % Entregas no Prazo x % Entregas sem Danos x % Pedidos Faturados Corretamente Em torno de 70%.
Pedidos Completos
e no Prazo ou %
OTIF - On Time in
Full Corresponde às entregas realizadas dentro do prazo e atendendo as quantidades
e especificações do pedido. Entregas Perfeitas /
Total de Entregas
Realizadas *100 Para grupos de
Clientes A, o índice avaria de 90 % a 95%; no geral atinge
valores próximos de 75%.
Entregas no Prazo
ou On Time Delivery Desmembramento da OTIF; mede % de entregas realizadas no prazo acordado com o Cliente. Entregas no prazo /
Total de Entregas
Realizadas *100 Variam de 95% a 98%
Taxa de Atendimento do
Pedido ou Order
Fill Rate Desmembramento da OTIF; mede % de pedidos atendidos na quantidade e especificações solicitadas pelo Cliente. Pedidos integralmente
atendidos / Total de
Pedidos Expedidos
*100 99,5 %
Tempo de Ciclo do
Pedido ou Order
Cycle Time Tempo decorrido entre a realização do pedido por um Cliente e a data de entrega. Alguns consideram como data final a data de disponibilização
do pedido na doca de expedição. Data da Entrega menos a Data da Realização do Pedido Menos de 24 horas
para localidades mais próximas ou até um limite de 350 km.
Tabela 1 - Indicadores de Desempenho Logístico Interno
Fonte: ADAPTADA DE DOCUMENTO DA TIPERLOG CONSULTORIA E TREINAMENTO EM LOGÍSTICA LTDA
Indicador de
Desempenho Descrição Cálculo Melhores Práticas
DESEMPENHO NA GESTÃO DOS ESTOQUES
Tempo do estoque na doca e/ou
Dock to Stock
Time Tempo da mercadoria da doca de recebimento até a
sua armazenagem física. Outros consideram da doca
até a sua armazenagem
física e o seu registro nos sistemas de controle de
estoques e disponibilização
para venda. Tempo da doca ao
estoque ou
disponibilização do
item para venda 2 horas ou 99,9 % no mesmo dia.
Acuracidade do
Inventário ou
Inventory Accuracy Corresponde à diferença entre o estoque físico e a
informação contábil de estoques. Estoque Físico Atual
por SKU / Estoque
Contábil ou Estoque
Reportado no Sistema *100 No Brasil, 95 %. No
Japão atingem 99,95
% e nos EUA entre
99,75 % a 99,95%.
Estoque
Stock outs
Quantificação das vendas perdidas em função da
indisponibilidade do item solicitado. Receita não Realizada devido à
Indisponibilidade do
Item em Estoque (R$) Variável.
Estoque
Indisponível para
Venda Corresponde ao estoque
indisponível para venda em função de danos decorrentes da
movimentação
armazenagem, vencimento da data de validade ou
obsolescência. Estoque Indisponível
(R$) / Estoque Total
(R$) Variável.
Utilização da
Capacidade de
Estocagem ou
Storage Utilization Mede a utilização
volumétrica ou do número de posições para estocagem
disponíveis em um
armazém. Ocupação Média em m³ ou Posições de
Armazenagem
Ocupadas / Capacidade
Total de Armazenagem em m³ ou Número de
Posições *100 Estar acima de 100
% é um péssimo
indicador, pois
provavelmente indica que corredores ou outras áreas inadequadas para estocagem estão sendo utilizadas.
Visibilidade dos
Estoques ou
Inventory Visibility Mede o tempo para
disponibilização dos
estoques dos materiais recém recebidos nos sistemas da empresa. Data e/ou Hora do
Registro da Informação de Recebimento do
Material nos Sistemas
da Empresa - Data e/ou Hora do Recebimento Físico Máximo de 2 horas.
Tabela 2 - Indicadores de Desempenho Logístico Interno
Fonte: ADAPTADA DE DOCUMENTO DA TIPERLOG CONSULTORIA E TREINAMENTO EM LOGÍSTICA LTDA.





Indicador de
Desempenho Descrição Cálculo Melhores Práticas
PRODUTIVIDADE DA ARMAZENAGEM
Pedidos por Hora
ou Orders per Hour Mede a quantidade de pedidos separados e embalados /
acondicionados por hora. Também pode ser medido em linhas ou itens. Pedidos Separados e/ou Embalados / Total de Horas Trabalhadas no
Armazém Variam conforme o
tipo de negócio.
Custo por Pedido
ou Cost per Order Rateio dos custos
operacionais do armazém pela quantidade de pedidos expedidos. Custo Total do
Armazém / Total de
Pedidos Expedidos Variam conforme o
tipo de negócio.
Custos de
Movimentação e
Armazenagem
como um % das
Vendas ou
Warehousing Cost
as % of Sales Revela a participação dos
custos operacionais de um armazém nas vendas de uma empresa. Custo Total do
Armazém / Venda
Total Variam conforme o
tipo de negócio.
Tempo Médio de
Carga / Descarga Mede o tempo de
permanência dos veículos de transporte nas docas de recebimento e expedição. Hora de Saída da Doca - Hora de Entrada na Doca Variam conforme
tipo de veículo, carga e condições
operacionais.
Tempo Médio de
Permanência do
Veículo de
Transporte ou
Truck Turnaround
Time Além do tempo em doca, mede tempos manobra, trânsito interno, autorização da Portaria, vistorias, etc. Hora de Sa ída da
Portaria - Hora de
Entrada na Portaria Variam conforme
procedimentos da
empresa.
Utilização dos
Equipamentos de
Movimentação Mede a utilização dos equipamentos de
movimentação disponíveis em uma operação de
movimentação e
armazenagem. Horas em Operação /
Horas Disponíveis para Uso *100 Em uso intensivo,
com operador
dedicado, mínimo de 95 %.
Tabela 3 - Indicadores de Desempenho Logístico Interno
Fonte: ADAPTADA DE DOCUMENTO DA TIPERLOG CONSULTORIA E TREINAMENTO EM LOGÍSTICA LTDA

Indicador de
Desempenho Descrição Cálculo Melhores Práticas
DESEMPENHO NA GESTÃO DE TRANSPORTES
Custos de
Transporte como
um % das Vendas
ou Freight Costs as
% of Sales Mostra a participação dos
custos de transportes nas vendas totais da empresa. Custo Total de
Transportes (R$) /
Vendas Totais (R$) Variam conforme o
tipo de negócio.
Custo do Frete por
Unidade Expedida
ou Freight Cost per
Unit Shipped Revela o custo do frete por unidade expedida. Pode também ser calcula do por modal de transporte. Custo Total de
Transporte (R$) / Total de Unidades Expedidas Variam conforme o
tipo de negócio.
Coletas no Prazo
ou On Time
Pickups Calcula o % de coletas realizadas dentro do prazo
acordado. Coletas no prazo / Total de coletas *100 Variam de 95 % a 98 %.
Utilização da
Capacidade de
Carga de
Caminhões ou
Truckload
Capacity Utilized Avalia a utilização da capacidade de carga dos veículos de transporte
utilizados. Carga Total Expedida /
Capacidade Teórica
Total dos Veículos
Utilizados *100 Depende de diversas
variáveis, mas as
melhores práticas
estão ao redor de 85%.
Avarias no
Transporte ou
Damages Mede a participação das
avarias em transporte no
total expedido. Avarias no Transporte
(R$) / Total Expedido
(R$) Variável.
Não
Conformidades em
Transportes Mede a participação do custo extra de frete decorrente de re-entregas, devoluções, atrasos, etc por motivos diversos no custo
total de transporte. Custo Adicional de
Frete com Não
Conformidades (R$) /Custo Total de
Transporte (R$) Variável.
Acuracidade no
Conhecimento de
Frete ou Freight
Bill Accuracy Mede a participação dos erros verificados no conhecimento de frete em relação aos custos totais de
transportes. Erros na Cobrança (R$)/ Custo Total de
Transporte (R$) *100 Mínimo de 98,5 %.
Tabela 4 - Indicadores de Desempenho Logístico Interno
Fonte: ADAPTADA DE DOCUMENTO DA TIPERLOG CONSULTORIA E TREINAMENTO EM LOGÍSTICA LTDA.

2. Proposta de Avaliação de Desempenho Logístico na Logística Lean
A avaliação de desempenho logístico na logística lean basea-se em uma estrutura de objetivos mensuráveis que são identificados pelo fluxo de valor em cada processo. Os indicadores são essenciais para medir o desempenho logístico dos processos e identificar os pontos de melhoria. Estes indicadores são definidos em termos de atender a necessidade do consumidor e inclui uma ou mais medidas nos pontos mais críticos: lead time; qualidade exigida; confiabilidade de entrega (on-time) e preço (PHELPS et al.; 2003).
Neste contexto avaliação de desempenho na logística lean esta sendo adaptada da filosofia Manufatura Enxuta que foca em atividades que agregam valor ao produto, portanto, pode também ser implantada em redes de suprimentos, neste caso alguns autores, como por exemplo, Konecka (2010) atribuem o nome de cadeia de suprimentos Lean.
Além disso, a logística lean deve direcionar os seus esforços para os gaps de desempenho logístico, e nestes pontos é necessário um aprofundamento das relações entre causa e efeito do indicador. Nesta análise recomenda-se utilizar a ferramenta do MFV (mapa de fluxo de valor), permitindo uma melhor compreensão do estado atual, e um redesenho do estado futuro. O mapeamento do Fluxo de Valor facilita a identificação das atividades que não agregam valor, para a posterior eliminação dos desperdícios (WEE; WU, 2009)
A construção do MFV do estado atual do processo logístico pode ser sustentado pela utilização da ferramenta de melhoria contínua (kaizen).
Segundo Imai (2005) KAIZEN significa contínuo melhoramento, envolvendo todos, inclusive gerentes e operários de fato, o que se espera é que as estratégias Lean sejam implementadas para reduzir o custo total (ZHOU et al., 2008).

Figura 1: Integração entre ferramentas do Lean Seis Sigma.
Fonte: OLIVEIRA; ARAÚJO, 2009.

O processo de diagnóstico através do MFV, permite uma visão clara da necessidade de melhoria e ajuda na seleção e definição da ferramenta a ser aplicada na resolução dos problemas, é o que percebe-se na figura 1, (OLIVEIRA et al, 2009).
As interfaces entre os processos logísticos também podem ser avaliadas e medidas através do desenho feito com a ferramenta do SIPOC (NANCY, 2005).
• Supplier (Fornecedor): aqueles que fornecem recursos ao processo;
• Input (Entrada): a informação, materiais ou serviços;
• Process (Processo): ação para transformar entradas em saídas;
• Output (Saída): produto ou serviço final de um processo;
• Customer (Cliente): aqueles que recebem a saída dos Processos;
O fluxo para se implementar a avaliação de desempenho logístico da logística Lean começa pelo diagnóstico do problema, mapeamento do processo, redesenho do estado atual, definição dos indicadores e acompanhamento (CARDOZA et al, 2005).
Neste processo é importante definir como será coletado os dados, com qual frequência, e qual será a métrica utilizada. A definição dos indicadores faz parte da construção do processo de avaliação da logística lean (SÁNCHEZ et al, 2001).
Neste sentido a avaliação de desempenho da logística Lean numa organização pode ser medida pelos seus indicadores que mostre a eficiência dos processos que agreguem valor, e o plano de ação para reduzir os desperdícios. Sendo assim quando menos desperdícios forem encontrados no sistema logístico, mais lean esta organização pode ser considerada (CARDOZA et al, 2005).

3. Princípios da Logística Lean e suas Necessidades
Os processos logísticos lean necessitam de uma atenção ao fluxo de valor e um foco nas etapas que agregam valor ao produto e que o consumidor percebe (ZYLSTRA, 2008). Os princípios que a logística lean deve se orientar (GEORGE, 2004) são:
a) Focar no aumento da velocidade dos processos logísticos;
b) Analisar e separar os processos “adicionador de valor” do “não-adicionador de valor” utilizando ferramentas para reduzir as fontes de desperdícios;
c) Utilizar ferramentas para análise de fluxo do processo logístico;
d) Construir um modelo de avaliação que permita quantificar e eliminar o custo da complexidade.
Na filosofia lean, a integração entre as áreas de negócio da organização deve ser forte e precisa, a interface no processo logístico é uma necessidade latente e que define a competitividade. A cooperação se transfere da parceira interna para a externa, explorando as oportunidades de melhoria contínua. Neste nível de relacionamento a logística lean construiu o seu alicerce, e define as estratégias para a negociação da solução conjunta de problemas comuns, onde o futuro é projetado junto, com foco nas melhorias que venham assegurar a satisfação dos clientes internos e externos e que possam resultar em vantagens competitivas sustentáveis para ambos (CARAVANTES, 1997).
Um ponto vulnerável do conceito lean é com relação ao processo de controle e análise de dados, pois a metodologia lean não permite ser controlada pelo processo estatístico. Isso pode demonstrar a falta de um controle mais intenso e ao longo do tempo existe um risco de o processo retroceder e voltar ao estágio anterior a implementação da mudança (GEORGE, 2004).
Neste contexto a avaliação de desempenho na logística lean requer a implantação de uma política de controle por indicadores, com foco em melhoria contínua de processo e que busque intensivamente a excelência logística (SÁNCHEZ et al, 2001). Os valores de desempenho devem ser desdobrados em metas que necessitam estar alinhadas com o planejamento estratégico, tático e operacional, e suas respectivas métricas de desempenho, deve ser dividido entre os influenciadores e influenciáveis do processo avaliado (OLIVEIRA et al, 2009).
Além disso, o processo de avaliação de desempenho da logística lean é conceito em construção, a universidade e as organizações estão adaptando os conceitos da Manufatura Enxuta para testar os modelos que possam atender esta necessidade.

4. Logística Lean no Brasil
Alguns autores ressaltam que a aplicação da avaliação de desempenho na logística lean está mais direcionada para a logística imbound, porém não demonstram como é feito a medição deste processo.
Segundo Oliveira et al (2009) a filosofia lean também pode ser aplicada no indicador de desempenho global chamado OTIF (On Time In Full), neste caso a ferramenta utilizada foi o Lean Seis Sigma.
Neste contexto foram analisados os artigos pesquisados e foi feito um benchmarking nas empresas da região de Joinville, que estão implantando a filosofia lean, também foi utilizado o Networking com empresas que participam de cursos no Lean Institute Brasil, o resultado desta pesquisa demonstrou que o processo de avaliação de desempenho na logística lean ainda esta em fase de construção. O processo da logística que mais se aproxima de uma avaliação de desempenho lean é a logística imbound, devido a sua interface mais forte com a manufatura, porém os seus indicadores ainda não são lean, pois o seu enfoque não é na melhoria contínua e nem na eliminação dos desperdícios dos processos que não agregam valor, e sim o foco na agilidade e na redução do custo, este procedimento compremete a qualidade do produto (SÁNCHEZ et al, 2001).
A construção dos indicadores nas empresas brasileiras pesquisadas na logística lean, estruturada conforme quadro 01.
Cidade/Estado Setor Indicador Logístico Indicador Lean Logístico Melhores práticas Lean
Joinville/SC Têxtil Integralidade - Controle da Manufatura
Joinville/SC Plástico Integralidade/Pedido perfeito Logística Imbound Controle da Manufatura/Suprimentos
Joinville/SC Metalúrgico Integralidade/OTIF Logística Imbound Controle da Manufatura/Suprimentos
Castro/PR Metalúrgico OTIF - Controle da Manufatura
São Paulo/SP Metalúrgico OTIF Logística Imbound Controle da Manufatura/Suprimentos
Jaguariúna/ SP Farmacêutico Integralidade - Controle da Manufatura
Manaus/AM Eletrônico OTIF Logística Imbound Controle da Manufatura/Suprimentos
Quadro 1 – Pesquisa de avaliação de desempenho logístico
Fonte: Primária, 2011.

Considerações Finais
No levantamento bibliográfico realizado, observou-se que existem dificuldades para se demonstrar o modelo de avaliação de desempenho na logística lean. Alguns autores falam de avaliação de desempenho Lean Seis Sigma, outros apenas mencionam mapeamento e avaliação do fluxo de valor e por fim, alguns citam a filosofia Lean, porém com enfoque na Manufatura Enxuta.
A maioria dos artigos identificados no levantamento bibliográfico aborda questões referentes à avaliação de desempenho na Manufatura Enxuta, listando os fatores e os pontos de atenção referente à filosofia Lean, também relacionam o processo de construção e coleta de dados, e como definir as métricas do indicador a ser avaliado.
Outro aspecto constatado é que na implantação da avaliação de desempenho da logística lean requer atenção e foco nos processos que agregam valor, e não tem necessidade de avaliar todos os pontos, pois o excesso de indicadores também poder vir a ser uma fonte de desperdícios, que é o seu foco principal.
Conclui-se que a avaliação de desempenho na logística lean é amplificada com base nas ferramentas complementares MFV e Kaizen e os seus indicadores devem ser reavaliados constantemente com foco na melhoria contínua. Além disso, o conceito de avaliação de desempenho na logística lean envolve a redução de desperdícios por todos os processos logísticos, focando nas atividades que agregam valor aos clientes internos e externos e sustentando a estratégia de busca pela melhoria contínua e pela competitividade. Portanto, como não existe um processo logístico isento de desperdícios e/ou atividade que não agregue valor ao produto/serviço ao consumidor final, o conceito de avaliação de desempenho na logística lean refere-se à aplicação da filosofia lean nas interfaces que possuem características baseadas na necessidade de melhoria contínua.
Para Cardoza et al. (2005) alguns tópicos devem ser discutidos para ampliar o conceito de avaliação de desempenho na logística lean:
- Pesquisar os ganhos para a logística com a utilização da filosofia lean e definir o método a ser utilizado para medir os resultados;
- Estudar estratégia para a utilização do benchmarking no processo de construção da avaliação de desempenho do processo logístico na logística lean;
- Aprofundar a pesquisa bibliográfica para identificar modelos de avaliação de desempenho na logística lean.
Paralelamente, outras questões devem ser respondidas como: qual o grau de entendimento dos gestores sobre avaliação de desempenho na logística lean?
Existem diferenças entre os diversos setores no Brasil na avaliação de desempenho da logística lean.

Referências
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quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Dentro e fora dos espelhos: leituras do simbólico

Dentro e fora dos espelhos: leituras do simbólico


Claudia Regina Pereira Belli 1
cpereira@univille.br
Taiza Mara Rauen Moraes 2
taiza.mara@univille.br


Resumo

O artigo tem como objetivo refletir sobre o simbólico, sobre o “duplo”, subjacente à linguagem literária, num corpus que tematiza e espelha o real: “Mulher ao Espelho” e “Retrato”, de Cecília Meireles; “Pareça e Desapareça”, de Paulo Leminski ; “O Espelho”, de Mário Quintana, “O Búfalo” e “Onde Estivestes de Noite”, de Clarice Lispector e “Sampa”, de Caetano Veloso. Essas produções literárias que se utilizam do tema espelho e tecem reflexões de ordens diversas, são analisadas como promotoras de elos sociais que determinam diferentes olhares sobre o real demonstrando a força do poético.

Palavras-chave: Espelhos; Poesia; Leitura

Abstract

The objective of this article is to reflect about the symbolic, about the “double” present in the literary language, a corpus that gives theme and mirrors the reality: Cecília Meireles´s “Mulher ao Espelho” and “Retrato”; Paulo Leminski´s “Pareça e Desapareça”; Mário Quintana´s “O Espelho”, Clarice Lispector´s “O Búfalo”and “Onde Estivestes de Noite” and Caetano Veloso´s “Sampa“. These literary works that make use of mirror as a theme and weave reflections of different orders are analyzed as promoters of social links that determine different perceptions over reality demonstrating the poetic power.

Keywords: Mirrors; Poetry; Reading


Introdução


As reflexões analíticas sobre o simbólico, o duplo, subjacente à linguagem literária nos textos “Mulher ao Espelho” e “Retrato”, de Cecília Meireles; “Pareça e Desapareça”, de Paulo Leminski; “O Espelho”, de Mário Quintana ; “O Búfalo” e “Onde Estivestes de Noite”, de Clarice Lispector e “Sampa”, de Caetano Veloso espelham/multiplicam e ampliam sentidos tornando o poético um espaço de complexidade e de correlação entre dimensões vividas e imaginadas. Esses autores selecionados são relevantes por revelarem por meio de leituras do simbólico, aspectos lúdicos e questionadores.
O corpus poético selecionado com a temática “espelho” será analisado como produções verbais que operam um jogo de entrelaçamentos entre linguagem e silêncio e processa novas significações sobre o real projetando-as, literariamente, com múltiplos sentidos numa relação complexa e questionadora.


Espelhos: estudos reflexivos


O dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, define espelho: “Superfície refletora constituída por uma película depositada sobre um dielétrico (geralmente vidro) polido, ou pela superfície de um corpo metálico polido” (Ferreira, 1995, p.269). O espelho pode refletir o aparente e o que há de secreto em cada indivíduo, pode projetar uma imagem pronta, de fora para dentro ou uma imagem obscura de dentro para fora.
Lispector (1999, p.55), no conto “Onde Estivestes de Noite”, ao refletir sobre a existência, questiona a força do reflexo sobre o refletido:
O que é um espelho? Não existe a palavra espelho – só espelhos, pois um único é uma infinidade de espelhos. Em algum lugar do mundo deve haver uma mina de espelhos? Não são precisos muitos para se ter a mina faiscante e sonambúlica: bastam dois, e um reflete o reflexo do que o outro refletiu, num tremor que se transmite em mensagem intensa e insistente ad infinitum, liquidez em que se pode mergulhar a mão fascinada e retirá-la escorrendo de reflexos, reflexos dessa dura água. O que é um espelho? Como a bola de cristal dos videntes, ele me arrasta para o vazio que no vidente é o seu campo de meditação, e em mim o campo de silêncios e silêncios. Esse vazio cristalizado que tem dentro de si espaço para se ir para sempre sem parar: pois espelho é o espaço mais profundo que existe.

O tema espelho é provocativo, invoca indagações existenciais e evoca outras faces, as chamadas máscaras, criadas e recriadas pelo senso comum, para sobrevivência de cada indivíduo nas sociedades que fragmentam o sujeito.
No poema “Mulher ao Espelho”, de Meireles (2003, p.127), diferentes tipos de máscaras incorporam o sujeito e indagam por entre símbolos e metáforas perfis da mulher na poesia:
Hoje, que seja esta ou aquela,
pouco me importa.
Quero apenas parecer bela,
pois, seja qual for, estou morta.
Já fui loura, já fui morena,
já fui Margarida e Beatriz,
Já fui Maria e Madalena.
Só não pude ser como quis.
Que mal fez, essa cor fingida
do meu cabelo, e do meu rosto,
se é tudo tinta: o mundo, a vida,
o contentamento, o desgosto?
Por fora, serei como queira,
a moda, que vai me matando.
Que me levem pele e caveira
ao nada, não me importa quando.
Mas quem viu, tão dilacerados,
olhos, braços e sonhos seus,
e morreu pelos seus pecados,
falará com Deus.
Falará, coberta de luzes,
do alto penteado ao rubro artelho.
Porque uns expiram sobre cruzes,
outros, buscando-se no espelho.

A projeção da imagem no espelho pode proporcionar além do reflexo, a experiência de autoconhecimento, a descoberta de outro “eu”. Nesse caso é relevante levar em consideração o ensaio “Espelho, Espelhos” de Sérgio Telles, no qual questiona a existência e o reencontro com o próprio “eu” a partir de questões referentes à psicanálise e ao estabelecer um diálogo entre a psicanálise e o conto “Espelho”, de Guimarães Rosa, desnuda o fato de a literatura trazer a tona situações cotidianas e existenciais. O autor fala com o leitor como num espelhamento, já o analista é o espelho para o analisando, gerador de um processo de construção de identidades, de constituição do sujeito que está escondido por detrás de algo. Discussão, também desenvolvida por Calvino (1999 p. 166),
É minha imagem o que eu desejo multiplicar, mas não por narcisismo ou megalomania, como se poderia facilmente pensar. Pelo contrário até parece esconder. Em meio a tantas imagens ilusórias de mim mesmo, o verdadeiro eu é que nos faz mover-se.

O desejo íntimo de se conhecer, conhecer a si mesmo alavanca a multiplicação do próprio eu em facetas diversas que expressam um todo múltiplo e complexo, num contínuo vir a ser que constituem a existência.
Sérgio Telles3 observa que na galeria dos espelhos do palácio de Versailles, o reflexo de cada sujeito se multiplica. Os espelhos, por este aspecto multiplicador passaram a valer mais do que qualquer quadro, uma expressão máxima de monarquia absoluta.
Os multiplicadores da imagem do eu estereótipo, relacionados ao ciclo da vida, no quesito tempo, muitas vezes não são bem vindos, percebemos isso no conto de fadas, “Branca de Neve e os Sete Anões”, quando a rainha madrasta indaga: “Espelho, espelho meu, existe alguém mais bela do que eu?”, ela não suporta a beleza da jovem princesa Branca de Neve. Neste sentido, o espelho significa um tormento para a madrasta, porque desvela a passagem do tempo, o desgaste de sua beleza, revelando algo que antes era desconhecido para ela.
O espelho é um objeto que propicia enxergamentos diversos sobre a própria imagem, norteia reflexões e revelações sobre “eus” submersos, utilizando-se do poético.
Há outro exemplo do “duplo” gerado pelo espelho, quando o apóstolo Paulo cita no livro “2 Coríntios 3:18”: “E todos nós, com o rosto desvendado, contemplando, como por espelhos, a glória do Senhor, somos transformados, de glória em glória, na sua própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito” (Almeida, 2003, p.1465). O fato de a face estar sendo desvendada dilui a essência do seu olhar para dentro de si, interagindo com a sua própria existência.
Isso acontece também por meio da arte poética, que pode propiciar ao homem o desvelar de aspectos essenciais da vida. A poesia é a linguagem da imaginação, da emoção e dos sentidos, representa os objetos e seres, não como são propriamente, e sim, como são modelados por outros pensamentos, numa infinita variedade de formas e conteúdos de intimidades, caracterizada como atividade criadora e transformadora do tempo propiciando múltiplas experimentações.
No poema “Pareça e Desapareça”, do livro “Distraídos Venceremos”, Leminski (1991, p.63), registra as impressões do “eu lírico” diante do espelho – o outro eu dentro do espelho desapareceu no tempo, não há mais modelos de sua identidade a serem imitados.
Parece que foi ontem.
Tudo parecia alguma coisa.
O dia parecia noite.
E o vinho parecia rosas.
Até parece mentira,
tudo que parecia alguma coisa.
O tempo parecia pouco,
e a gente se parecia muito.
A dor, sobretudo,
parecia prazer.
Parecer era tudo
que as coisas sabiam fazer.
O próximo, eu mesmo.
Tão fácil ser semelhante,
quando eu tinha um espelho
pra me servir de exemplo.
Mas vice versa e vide a vida.
Nada se parece com nada.
A fita não coincide
Com a tragédia encenada.
Parece que foi ontem.
O resto, as próprias coisas contêm.
Os poetas costumam viver entre a biblioteca e a rua, entre o ontem e o hoje, entre as memórias e as histórias contadas, entre a infância e a vida. A linguagem poética tem aparecido na sociedade por meio de eventos culturais, declamações e reflexões sobre as representações sociais, como se fosse um espelhamento do autor para o leitor ou do leitor para o autor.


Poesia: uma questão literária


A poesia (re)trata o real por meio do lúdico, consegui expressar sentimentos ocultos, como se fosse um desabafo da alma, do coração e do “eu”.
“A poesia é a comunicação, a expressão do “eu”. A palavra é o signo literário por excelência, inferimos que a poesia é a expressão do “eu” pela palavra” (Massaud, 2003, p.84), conceito reafirmado por Lyra (1979, p. 50),
[...]nenhum bom poema deixa o leitor na mesma situação em que se encontrava antes da leitura: a modificação de seu modo de ser, se não foi intenção do poeta, é pelo menos um efeito do poema – e, deliberada ou espontânea, a persuasão se configura como uma categoria central da obra literária.

A partir dessa e de outras reflexões teóricas e etimológicas, percebemos que o sujeito ao ler um poema, transforma seu modo de olhar o mundo, passando a percebê-lo de maneira reflexiva, a mudança de percepção dar-se-á por meio de uma confissão sem máscaras, sem medos e de rupturas, tanto pela imagem refletida no espelho por diferentes ângulos ou pela descoberta do eu interior.
Na poesia lírica, o poeta preocupa-se com o próprio “eu”, o conteúdo da poesia lírica é a maneira como a alma, com seus juízos subjetivos, alegrias e admirações, dores e sensações, toma consciência de si própria. O eu lírico é um ser solitário, que revela uma arte que se percebe entre duas almas harmonizadas em idêntica solidão. Neste contexto, compreendemos que a poesia lírica é uma poesia de confissão, um exercício de reflexão da alma e do encontro com o eu poético.
No livro “O Arco e a Lira”, Paz (1982, p.15) afirma que,
A poesia é conhecimento, salvação, poder, abandono. Operação capaz de transformar o mundo, a atividade poética é revolucionária por natureza; exercício espiritual é um método de libertação interior. A poesia revela este mundo; cria outro.

Consideramos que a poesia é positiva e tem o poder de transformar, de mudar o mundo por meio do ser. Pode revelar um mundo e criar outro, revelar um modo novo para se comunicar com a sociedade de diferentes épocas.
O olhar sobre a questão poética ocorre por meio de princípios que dizem respeito ao desenvolvimento de uma reflexão narrativa e social, necessária para uma abordagem de signos intrínsecos à construção da identidade. “[...] a poesia nasce da antiga crença mágica na identidade entre a palavra e aquilo que a palavra nomeia” (Paz, 1991, p.7).
O conto “Búfalo”, de Clarice Lispector, expõe ao leitor o processo de construção do espelhamento de fora para dentro e de dentro para fora. O pacto do olhar mulher/búfalo denuncia a condição precária do ser, que só “é” na relação com o outro, que só “é“ pelo olhar o outro. A escritora Lispector (1960, p.161), expõe o conflito da personagem mulher, espelhado no olhar do búfalo.
Lá estavam o búfalo e a mulher, frente a frente.
Ela não olhou a cara, nem a boca, nem os cornos.
Olhou seus olhos. E os olhos do búfalo, os
olhos do búfalo olharam seus olhos. E uma
palidez tão funda foi trocada que a mulher se
entorpeceu dormente.

Essa passagem re(afirma) a questão de conhecer-se através do outro, pelo outro e pela troca de olhares, uma experiência poética carregada de confissões e conflitos psicológicos.
No poema “O Espelho”, de Quintana (2001, p.111), faz referência à passagem do tempo, de uma memória fugidia e fluida.
E como eu passasse por diante do espelho
não vi meu quarto com as suas estantes
nem este meu rosto
onde escorre o tempo.
Vi primeiro uns retratos na parede:
janelas onde olham avós hirsutos
e as vovozinhas de saia-balão
Como pára-quedistas às avessas que subissem do
fundo do tempo.
O relógio marcava a hora
mas não dizia o dia. O Tempo,
desconcertado,
estava parado.
Sim, estava parado
Em cima do telhado...
Como um catavento que perdeu as asas!

Percebemos que o tempo atrai situações inesperadas, é a magia repentina das coisas, é o mágico das armadilhas. O tempo não está somente no relógio, está nas fases do espelho da vida, o tempo não se transforma em uma estátua, o tempo é a lembrança e a espera de algo, o tempo reflete o passado no presente.
Encontramos a passagem e as marcas inexoráveis do tempo, que transforma e deforma a imagem e o ser no poema “Retrato”, de Meireles (2001, p.18),
Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.

Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.

Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
- Em que espelho ficou perdido a minha face?

Outro exemplo é a parábola de Narciso, que tem sido uma grande fonte de inspiração para os artistas há pelo menos dois mil anos. Na Mitologia Grega, Narciso ou O autoadmirador era um herói do território de Téspias, Beócia, famoso pela sua beleza e orgulho. O Narciso tinha uma irmã gêmea. Ambos se vestiam da mesma forma, usavam o mesmo tipo de roupa e caçavam juntos, mas, Narciso se apaixonou por sua irmã. Quando ela faleceu, Narciso se consumiu de desgosto, fingiu que o reflexo que via na água era a de sua irmã. E, no lugar onde o seu corpo se encontrava, apenas restou uma flor: o narciso.
O narcisismo é recuperado, poeticamente, na letra da canção, “Sampa”, extraída do livro “Letra Só”, de Veloso (2003, p. 198-199). O compositor se (re)apropria do mito de Narciso para explicar, simbolicamente, o que lhe ocorreu quando conheceu a cidade de São Paulo:
Alguma coisa acontece no meu coração
Que só quando cruza a Ipiranga e a Avenida São João
É que quando eu cheguei por aqui eu nada entendi
Da dura poesia concreta de tuas esquinas
Da deselegância discreta de tuas meninas

Ainda não havia para mim Rita Lee
A tua mais completa tradução
Alguma coisa acontece no meu coração
Que só quando cruza a Ipiranga e a Avenida São João

Quando eu te encarei frente a frente não vi o meu rosto
Chamei de mau gosto o que vi, de mau gosto, mau gosto
É que Narciso acha feio o que não é espelho
E à mente apavora o que ainda não é mesmo velho
Nada do que não era antes quando não somos mutantes
E foste um difícil começo
Afasto o que não conheço
E quem vende outro sonho feliz de cidade
Aprende depressa a chamar-te de realidade
Porque és o avesso do avesso do avesso do avesso

Do povo oprimido nas filas, nas vilas, favelas
Da força da grana que ergue e destrói coisas belas
Da feia fumaça que sobe, apagando as estrelas
Eu vejo surgir teus poetas de campos, espaços
Tuas oficinas de florestas, teus deuses da chuva

Pan-Américas de Áfricas utópicas, túmulo do samba
Mais possível novo quilombo de Zumbi
E os novos baianos passeiam na tua garoa
E novos baianos te podem curtir numa boa

Essa letra é carregada de significações e provocações, retrata um narcisismo diferente, desfalecido. O nome Narciso vem da palavra Grega narke, que significa entorpecido. Para os gregos, Narciso simbolizava a vaidade e a insensibilidade, visto que ele era entorpecido às solicitações daqueles que se apaixonaram pela sua beleza. Questões como estas, identificam a relação do outro com o outro, o outro eu, que talvez possa fazer alusão à condição efêmera do ser que sente a necessidade de continuar-se no outro, que é gerado de si, para que permaneça por muito tempo na memória dos seus.

Considerações finais e provocações


Então, quem tem medo de espelhos? Dos vários eus que habitam os espelhos? Sempre vai depender da perspectiva do eu, ou do que, realmente, se pretende ver em cada espelho revelado. A última indagação questiona quais são as perspectivas da imagem refletida pelo espelho. Será a aparência, a essência, e/ou a memória?
Atingir a sensibilidade de cada indivíduo, de modo que o afete de uma maneira encantadora e reconhecedora através do espelho, é um tema poético, uma forma de representação pela linguagem da existência e do contexto sócio cultural de uma época.
Ao encerrar este artigo, reflexivo, considerando a complexidade e a subjetividade dos textos investigados, percebemos que a linguagem promove elos sociais, determinada por diferentes olhares para verificar as transformações poéticas no tempo e espaço e reflete sobre o simbólico, sobre o “duplo”, subjacente à linguagem literária.


Notas

Mestranda do Programa de Mestrado em Patrimônio Cultural e Sociedade e bolsista pesquisadora do PIBPG – Programa Institucional de Bolsas de Pós-Graduação (Stricto Sensu) da Universidade da Região de Joinville – UNIVILLE.

2 Doutora em Teoria da Literatura – UFSC e professora do Programa de Mestrado em Patrimônio Cultural da Universidade da Região de Joinville – UNIVILLE.

3 Sérgio Telles nasceu em Fortaleza e formou-se em Medicina em 1970. Reside em São Paulo, exerce a clínica psicanalítica. Em 11 de março de 1989 publicou o artigo Espelho, Espelhos, na Folha de São Paulo.



Referências bibliográficas

ALMEIDA, João Ferreira. A Bíblia da Mulher – Tradução e adaptação de The Woman’s Study Bible. 2.ed. São Paulo: Mundo Cristão e Sociedade Bíblica do Brasil, 2003.

CALVINO, Ítalo. Se um Viajante numa Noite de Inverno. São Paulo: Nova Fronteira, 1999.

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda & J.E.M.M. Novo Dicionário Básico da Língua Portuguesa. Folha de São Paulo: Aurélio, 1995.

LYRA, Pedro. Literatura e Ideologia. Ensaios de Sociologia da Arte. Petrópolis: Vozes, 1979.

LEMINSKI, Paulo. Distraídos Venceremos. 4.ed. São Paulo: Brasiliense, 1991.

LISPECTOR, Clarice. Onde Estivestes a Noite?. São Paulo: Companhia do Livro, 1999.

__________________. Laços de Família. São Paulo: Livraria Francisco Alves,1960.

MASSAUD, Moisés. A Criação Literária: poesia. 16.ed. São Paulo: Cultrix, 2003.

MEIRELES, Cecília. Antologia Poética. 3.ed. Rio de Janeiro: Nova fronteira, 2001.

________________. Flor de Poemas. Rio de Janeiro: Record, 2003.

PAZ, Octavio. O Arco e a Lira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982.

___________. Convergências: ensaios sobre arte e literatura. Rio de Janeiro: Rocco, 1991.

QUINTANA, Mário. Melhores Poemas. 13.ed. São Paulo: Global, 2001.

VELOSO, Caetano. Letra Só. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

REVOLUÇÃO NA EDUCAÇÃO


Folha de São Paulo, 05/12/2010 - São Paulo SP
Revolução na educação pública
Apenas com o apoio da população poderemos cobrar da classe política as medidas imprescindíveis para atacar de frente esse grave problema - JAIR RIBEIRO


Sinceramente, não entendo por que mais pessoas não se sentem revoltadas diante das condições da educação pública neste país. Somos uma nação em que cerca de 50% das crianças brasileiras da 5ª série são semianalfabetas. Dos 3,5 milhões de alunos que ingressam no ensino médio (antigo colegial), apenas 1,8 milhão se formam. Como consequência, todos os anos nós jogamos milhões e milhões de adolescentes despreparados no mercado de trabalho, sem qualquer perspectiva de ascensão social e econômica. Isso não lhe causa indignação? Essas estatísticas refletem décadas -ou melhor, centenas de anos- de descaso com a educação. Nós, brasileiros, políticos e sociedade civil, simplesmente não priorizamos a educação. Com isso, impedimos que o país melhore a sua desigualdade social, reduza a violência ou mesmo consiga sustentar uma taxa de crescimento mais estável. As estatísticas recentes demonstram que o sistema não apresentou uma melhora significativa nos últimos anos. Nesse ritmo, jamais atingiremos o nível de educação dos países desenvolvidos em 2022, como propõe o governo.
Mesmo porque trata-se de uma meta móvel: até lá, os demais países terão avançado substancialmente mais. Precisamos de uma verdadeira revolução na educação pública brasileira. Os Estados Unidos a fizeram em 1870, ou seja, há 140 anos! Em uma década, dobraram o investimento na educação pública e universalizaram o ensino. Em 1910, todas as crianças tinham acesso a uma escola de período semi-integral. Outro exemplo conhecido é o da Coréia. Na década de 70, iniciaram uma verdadeira revolução na qualidade da educação pública. Com isso, saíram de um PIB per capita abaixo do brasileiro para um dos mais altos do mundo em menos de duas gerações. O modelo mais recente é o chinês. Muito se fala nos investimentos em infraestrutura, mas pouco se divulga o enorme esforço educacional chinês, do ensino primário aos cursos de doutorado.
Mas o que podemos fazer? Primeiro, conscientizar a população em geral para o verdadeiro desastre que é nossa educação pública. Apenas com o apoio da população poderemos cobrar da classe política as medidas revolucionárias (já amplamente conhecidas dos experts em educação) imprescindíveis para atacar de frente o problema. Em segundo lugar, envolva-se pessoalmente. Educação pública é uma questão por demais relevante para se deixar apenas na mão do Estado. Há inúmeras ONGs de excelência que contribuem para a melhoria do quadro educacional brasileiro (por exemplo, o Instituto Ayrton Senna, a Fundação Bradesco ou mesmo a nossa Parceira da Educação, para nomear algumas). Participe delas, como voluntário ou mantenedor. Quanto mais envolvido com a realidade da educação pública, mais consciente você estará dos nossos desafios. Precisamos de mais aliados nessa revolução! JAIR RIBEIRO, empresário, é co-coordenador da Associação Parceiros da Educação, ONG que promove a parceria entre escolas públicas e empresárias.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Um choque de educação - Katia Chedid

O Globo, 23/11/2010 - Rio de Janeiro RJ

Todos os "choques" que se possam criar, deveriam convergir para apenas um, único e fundamental: O Choque de Educação. Éramos muito felizes e não sabíamos o quanto, quando décadas atrás, os bons estudantes, estavam nas escolas públicas. As mesmas sólidas construções que existem até hoje. Professores trabalhavam por vocação, eram respeitados e complementavam exemplarmente a educação que os alunos recebíamos em casa. As escolas eram continuidade de nossos lares. Tive a honra de estudar no maravilhoso Colégio de Aplicação da UERJ, público. Muito jovens, éramos tratados como universitários, por mestres inesquecíveis. Junto a excelente qualidade de ensino, a disciplina reinante, em todos os aspectos, fazia toda a diferença. Ninguém saía gritando pelo colégio ou em sala de aula. O respeito ao professor era absoluto. Nosso uniforme não podia ser modificado e sentíamos grande orgulho em usá-lo. Qualquer situação era discutida com os superiores. Os alunos participavam e eram ouvidos, sabendo bem a importância de seus atos. Havia ordem. Educação, disciplina e respeito aos limites. Palavras fora de moda nos dias atuais.

A evolução não nos trouxe itens melhores, ao contrário, caminha para a degradação da sociedade. As praças de alimentação em shoppings podem ser um termômetro para tal. Todos falam aos gritos. Mães deixam seus filhos correrem, incomodam todo mundo e acham uma gracinha. Elas são "mães modernas", usam bolsas de grife, não repreendem filhos de quatro anos que já usam celular e computador, e estudam em colégios avançados e famosos. Esta mesma "família moderna", quando sai, deixa tudo sujo em volta, entendendo que é obrigação dos empregados limpar. Ao entrar no seu carro, de marca valiosa, ainda vão jogar pela janela, em via pública, o que desejar. O pai vai avançar o sinal para ganhar tempo, vai xingar o pedestre, buzinar bem alto, e dirigir, falando ao celular.

Estas crianças na escola vão agir como quiserem, e o pobre professor vai levar a sobra sem poder fazer nada. Caso faça, o psicólogo vai contrapor suas atitudes. Quando adolescente, está criança vai bater em todo mundo, vai agredir o professor, vai se achar o dono de seu arruaceiro mundo. Os pais não terão voz, pois estarão colhendo o que plantaram em seus impossíveis filhos que, à noite, estarão fazendo baderna, pichando muros, ouvindo som às alturas e gritando seus palavrões nos bares da vida.

As alterações e a modernidade no ensino não nos levaram a melhores caminhos. Os professores já estão em extinção. O sistema de ensino desce ladeira abaixo e vemos nossa cidade suja, depredada e pichada pelo próprio povo. O mesmo povo que joga o panfleto no chão, em frente à caixa coletora, indiferente ao gari que acabou de varrer tudo, sem consciência de que o material de limpeza gasto sai dos seus impostos. A falta de educação, o desconhecimento dos princípios da ética, o desrespeito ao limite do próximo, em todos os níveis e classes, são mazelas desta sociedade, muito ocupada em consumir, ao invés de evoluir, aprimorar, exercer cidadania e construir algo melhor como exemplo para seus filhos. Este é o grande choque que deve ser dado se, ainda tivermos tempo, de voltar aos princípios.

“A educação do homem começa no momento do seu nascimento; antes de falar, antes de entender, já se instrui”. Jean Jacques Rousseau
VAMOS REFLETIR!